segunda-feira, 26 de novembro de 2007

LUIZ FELIPE ALENCASTRO


Ao final da trégua dos Doze Anos (1609-21) reacende as hostilidades hispano-neerlandesas e veda o acesso dos Estados Gerais às mercadorias coloniais ibéricas. É criada, então, a West-Indische Compaingne (WIC) com o intuito de fazer guerra e comércio.

Na estratégia holandesa, os portos comerciais do Atlântico português se apresentavam como alvos conjugados. Assim, em 1624-25, a Holanda ataca a Bahia e realiza o bloqueio naval de Luanda e Benguela. Em 1630, conquistam Pernambuco. Em meio a conflitos entre optar pelo monopólio e a liberdade de comércio, Mauricio de Nassau é escolhido governador da Nova Holanda. Ele acreditava que a liberdade de comércio era uma condição necessária para atrair colonos norte-europeus, a fim de assegurar a posse duradoura dos territórios.

Em 1638 houve um acordo intermediário. A WIC ficava com o monopólio da navegação, do trato negreiro, do pau-brasil, da venda de munições, e deixava o restante do comércio de importação e exportação aberto aos habitantes das Províncias Unidas. Engenhos recomeçam a moer cana, levando a WIC a fisgar o olho no trato africano.

Assim que assumiu, Nassau percebeu a necessidade de escravos para manter em funcionamento os engenhos de cana-de-açúcar. Saído da Holanda, se assenhoreia de uma base colonial portuguesa cujo modo de exploração o induz a varrer o “escrúpulo inútil” de seus patrícios e a incorporar o escravismo no cálculo econômico dos burgueses de Amsterdam.

Admitida a necessidade do tráfico negreiro, Nassau lança-se em direção à África com o intuito de conquistar os mercados negreiros da região. Além de problemas éticos quanto à escravidão, o maior peso para o atraso da empreitada foi a falta de conhecimento no trato de escravos. Escambar negros necessitava da posse de navios adequados, contatos com tratistas nativos e até o conhecimento da língua portuguesa. Em 1637, Nassau lança, do Recife, uma frota para capturar S. Jorge da Mina e resolver o problema da falta de escravos da Nova Holanda. Armado o trato dos viventes, os holandeses guiam-se pela prática negreira luso-brasileira.

Inquieto com o cerco à Nova Holanda, o Conselho dos XIX estimava que o alvo da ofensiva devia ser a Bahia, baluarte anti-holandês. Nassau discordou. Constatando que Pinda e Mina não davam conta do fornecimento de escravos a Pernambuco, Nassau deixa a Bahia de lado e lança seus navios sobre o pólo econômico complementar à Nova Holanda. Sobre o maior mercado atlântico de cativos: Angola. Para justificar-se, Nassau disse que Luanda era o principal mercado de escravos. Sem eles a produção de açúcar era impossível. Além do mais Castela acabaria sendo atingida, pois as minas do Peru ficariam sem valor se Filipe IV não pudesse extrair escravos de Angola para explorá-las.

A captura dos dois pólos da economia de plantações – zonas produtoras escravistas americanas e zonas africanas reprodutoras de escravos – mostrava-se indispensável para o implemento da atividade açucareira.Conquistados os enclaves em ambas as margens do Atlântico, carecia ainda que a WIC se adaptasse à gestão escravista.

terça-feira, 20 de novembro de 2007

PAIXÕES

Em algum dia da semana passada, fui assistir a "Jogo de cena". Mais uma vez Eduardo Coutinho acerta ao misturar ficção e realidade. Depoimentos de mulhers comuns são, por vezes, interpretados por atrizes como Marília Pera, Fernanda Torres, Andre Beltrão, entre outras. O que é teatro e o que é realidade é o tal jogo de cena do título do filme.

Domingo, dia 18/11, fui assistir à última apresentação de "Apenas o fim do mundo", com a Companhia Brasileira de Teatro. O texto é do francês Jean-Luc Lagarce e mostra a volta do irmão mais velho à casa de sua família para anunciar a morte próxima. O retorno, após longa ausência, acaba exacerbando velhos conflitos e mágoas existentes desde a sua ida.

No exato momento em que escrevo estas primeiras linhas, está sendo apresentado em um desses canais da TV a cabo, o filme "Escola do Riso". Filmado no Japão, "Escola do Riso" é uma adaptação de uma peça de teatro e quase toda a ação se passa entre dois personagens e em somente um cenário. O embate se dá entre um dramaturgo e um censor no Japão pré-segunda guerra. O primeiro tenta a todo custo adaptar a peça com mensagens patrióticas. O segundo tenta, por sua vez, fazer o menor número de alterações.

Mas porque isso agora? Uma vez aprendi que se fosse possível "ver" o mundo em uma peça de teatro era por que eu estaria, verdadeiramente, diante de uma obra teatral. O teatro se propõe universal, assim como a internet. Contraditoriamente, porém, ele é capaz de, apesar da sua universalidade, atingir a cada um de nós individualmente, assim como a internet.

Universal por que mostra o mundo como ele é e como pode ser em qualquer parte dele mesmo, o mundo. Universal por que desmascara, apesar de suas máscaras, personas, personagens, as mesmas máscaras, personas e personagens que encontramos pela vida. Ao mesmo tempo é cruelmente devastador ao atingir de forma particular e individual aquele incauto que saiu de casa apenas para se divertir e comer uma pizza depois da sessão.

Este post inicial tem a finalidade de, além de quebrar o gelo do "primeiro post", fazer uma pretensa homenagem a duas paixões da minha vida: o teatro e o cinema.