quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

MUDANÇAS

A vida dos outros – É a história de um agente da Stasi, a agência secreta da Alemanha comunista que, em 1984, antes da queda do muro de Berlin, é encarregado de vigiar um casal de artistas a mando do Ministro da Cultura, que está apaixonado pela atriz. Aos poucos, o espião acaba por se envolver na história desse casal e mudando o seu ponto de vista, chegando a protegê-los da ditadura comunista.




A culpa é do Fidel – Uma menina de 9 anos, criada como uma princezinha e cheia de caprichos, vê a sua vida mudar completamente quando seus pais, na França da década de 70, tornam-se comunistas radicais e passam a ajudar as eleições presidenciais de Salvador Allende, no Chile. De repente, seus padrões de vida mudam, sua vida é invadida por um grupo de comunistas e todos os seus conceitos entram em choque com a realidade.




O que haveria em comum entre esses dois ótimos filmes, além do fato deles tratarem, de alguma forma, do comunismo? Ambos falam de transformações. Transformações que acontecem nas pessoas a todo momento, a cada minuto. E é muito bonito quando a sensibilidade de um roteirista e de um diretor consegue captar esse instante, capaz de ocorrer com qualquer um de nós.

Em “A vida dos outros”, o espião acaba se encantando com a vida do dramaturgo e da atriz. Talvez por causa do amor que eles tinham um pelo outro, do carinho ou, ainda, por causa do talento. Aquele homem frio, especialista em interrogatórios e torturas, que deveria garantir o livre curso comunista naquela parte da Alemanha, impedindo qualquer ato de ordem capitalista, aquele homem é tocado pelo amor do casal. A partir deste momento, começa a ser mostrada a luta contra as suas carências, pela vida dentro de um sistema opressivo e pela sua sobrevivência apesar da Stasi.

Por outro lado, há transformações também por parte do dramaturgo. Ele, que escrevia peças de cunho ideológico a favor do comunismo, passa a ajudar o amigo que é contra aquele sistema de governo. Dessa forma, ele colabora com um artigo que será publicado em uma revista de grande circulação na Alemanha Ocidental.

Com “A culpa é do Fidel” também há uma polarização interessante. Como naquelas comédias que tratam do deslocamento no eixo tempo/espaço e, assim, podemos ver um homem das cavernas em plena cidade grande, por exemplo, aqui há o deslocamento tempo/ideológico. O conflito é entre duas gerações. O que já é normalmente conflituoso, como a relação pais e filhos, torna-se maior quando esses pais são comunistas e a filha não.

Mas é possível falar de ideologia tratando-se de uma menina de 9 anos? Talvez não usando esse termo, pois nem ela mesma sabe o que é ideologia, mas é aí que está a riqueza do filme. A partir da concepção de mundo mais objetiva que é a da criança, em que os conceitos, ainda em formação, não possuem a gama de detalhes do pensamento dos adultos, há um confronto com o mundo destes, onde os conceitos já estão, aparentemente, formados. Porém, ao serem questionados, as respostas não satisfazem à criança, demonstrando a enorme subjetividade de significados e de pontos de vista, e explicitando a tenuidade das definições fechadas. Solidariedade, comunismo, capitalismo, aborto, religião.

É neste momento que as relações se tornam mais acirradas e é aí também que as transformações ocorrem nos dois lados. Os pais que já haviam mudado da condição de burgueses para comunistas, encontram-se perdidos em meio às suas ideologias. A capitulação vem com a notícia da morte de Salvador Allende.

Não há em nenhum dos dois filmes uma bandeira a favor ou contra o comunismo. Há o registro de um momento único da transformação do ser humano, passível de ocorrer com qualquer um de nós. Não somos preto ou branco. Somos tudo que está inserido entre essas duas cores, além delas mesmas.

3 comentários:

Robson Souza disse...

Oi Artur, vejo que esta aproveitando bem as férias.
Seu comentário foi ótimo e ontem estava até falando com a Jaci sobre isso tudo.
Além da questão de sermos diferentes (ao mesmo tempo nós mesmos)para a adaptação de meios diferentes e de sermos as vezes o que os outros pensam que somos tem a questão que você colocou muito bem, que é o da própria transformação que sofremos constantemente.
No poema Menestrel de Shakespeare tem uma frase que serviu para mim analisar uma amizade antiga, que aos poucos esta se apagando a chama:
"Aprende que não temos de mudar de amigos se compreendemos que os amigos mudam…"

Ou seja, entender que as pessoas vivem essa transformação o tempo inteiro e que isso com certeza é muito bom!

Geanglés B. de Moraes disse...

Lá embaixo tem um comentário meu sobre a educação rsrsrsrs...Mas,sobre mudanças, tenho aprendido, com Sartre heheheh, que não há como enquadrar uma pessoa no julgamento precipitado do "fulano é"...O que sempre conjugaremos, querendo ou não, enquanto vivos, é o vir-a-ser.

Robson Souza disse...

Oi, tem alguém aí?
Vamos escrever!!!